quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Entrevista aos amigos da Inês


Nome: M.V.
Sexo: F                                               
Idade: 48     

1.     Quando reparaste que a Inês era gaga?
Quando a conheci vi logo que era gaga.

2.     O facto de ela ser gaga tem algum tipo de implicação Na vossa amizade? E na forma de ela se dar com as outras pessoas?
Não, nenhuma!

3.     Já conhecias alguém gago antes de a conhecer?
Já, o meu irmão e um amigo .

4.     Qual foi a primeira reacção ao perceberes que a Inês era gaga? Porquê?
Não me incomodou, foi natural; pois já tinha pessoas na família.

5.     O que sabes sobre a gaguez?
Para mim a gaguez advém do sistema nervoso.

6.     Sabes porque existe gaguez? Quais pensas serem as causas para a gaguez?
Não sei porque existe. Penso que a causa seja sistema nervoso.

7.     Quando falas com alguém gago como te sentes? Sentes necessidade de o ajudar? Porquê?
Sinto a necessidade de o ajudar.

8.     Em relação à comunicação, utilizas algum tipo de estratégias para a facilitar?
Acabo as palavras porque vejo que a pessoa está “aflita” e começa a enervar-se por não conseguir dizer.

9.     Quando achas que a gaguez se torna mais evidente? Em que tipo de situações achas que ela gagueja mais?
A gaguez torna-se mais evidente quando são situações que a enervam. Quando está mais nervosa gagueja mais.

10.  Achas que ela utiliza estratégias para contornar a gaguez? Se sim, quais?
Sim, ela tenta controlar a gaguez tentando concentrar-se no que vai dizer, umas vezes consegue, mas outras não porque como fica nervosa, as palavras continuam a não sair.




Nome: R.A.
Sexo: M                                                
Idade: 19     

1-    Quando reparaste que a Inês era gaga?
Reparei logo na 1ª vez que a conheci.
                    
2-    O facto de ela ser gaga tem algum tipo de implicação Na vossa amizade? E na forma de ela se dar com as outras pessoas?
Não, pelo contrário, eu até ajudo quando ela não consegue dizer bem as palavras. Penso que não.

3-    Já conhecias alguém gago antes de a conhecer?
Já.

4-    Qual foi a primeira reacção ao perceberes que a Inês era gaga? Porquê?
A minha primeira reacção foi-lhe perguntar se ela era gaga, porque ela não tava a conseguir soletrar bem as palavras.

5-    O que sabes sobre a gaguez?
Não sei bem o que significa.

6-    Sabes porque existe gaguez? Quais pensas serem as causas para a gaguez?
Não. Não sei.

7-    Quando falas com alguém gago como te sentes? Sentes necessidade de o ajudar? Porquê?
Sim. Porque assim depois é mais fácil de a compreender.

8-    Em relação à comunicação, utilizas algum tipo de estratégias para a facilitar?
Os gestos, ou várias expressões.

    9-    Quando achas que a gaguez se torna mais evidente? Em que tipo de situações achas que ela gagueja mais?
Quando se nota mais evidente é quando ela está mais nervosa.

10. Achas que ela utiliza estratégias para contornar a gaguez? Se sim, quais?
Deve utilizar.



Nome: C.G.
Sexo:                                                            
Idade: 24     

1-    Quando reparaste que a Inês era gaga?
Reparei que a Inês é gaga no primeiro dia que a conheci.

2-    O facto de ela ser gaga tem algum tipo de implicação Na vossa amizade? E na forma de ela se dar com as outras pessoas?
O facto de ser gaga não tem qualquer tipo de implicação na nossa amizade. Penso que também não tenha qualquer implicação na forma como se dá com outras pessoas.

3-    Já conhecias alguém gago antes de a conhecer?
Não.

4-    Qual foi a primeira reacção ao perceberes que a Inês era gaga? Porquê?
Nenhuma, acho que devemos sempre respeitar as pessoas, independentemente, das diferenças ou dificuldades.

5-    O que sabes sobre a gaguez?
Que pode ter origem genética.

6-    Sabes porque existe gaguez? Quais pensas serem as causas para a gaguez?
Não. Não sei.

7-    Quando falas com alguém gago como te sentes? Sentes necessidade de o ajudar? Porquê?
Normal, mas sinto necessidade de a tentar acalmar ou completar as suas frases. Para não se sentir excluída ou ansiosa.

8-    Em relação à comunicação, utilizas algum tipo de estratégias para a facilitar?
Sem ser tentar acalmar ou completar as suas frases, talvez ser mais paciente e esperar que acabe as frases sozinha.

9-    Quando achas que a gaguez se torna mais evidente? Em que tipo de situações achas que ela gagueja mais?
Se calhar em situações de ansiedade ou em determinadas palavras em que tenha mais dificuldade. Nas situações acima descritas.

10. Achas que ela utiliza estratégias para contornar a gaguez? Se sim, quais?
_Sim, evita palavras que tem dificuldade em dizer.



Nome: C.T.
Sexo: F                                                
Idade: 23     

1-    Quando reparaste que a Inês era gaga?
Assim que trocámos umas palavras na primeira vez que nos conhecemos.

2-    O facto de ela ser gaga tem algum tipo de implicação Na vossa amizade? E na forma de ela se dar com as outras pessoas?
Não, a gaguez não é implicação para fazer amizades, mas as dificuldades a ultrapassar essas sim reforçam as amizades. Talvez o facto de esse pequeno pormenor a nível da fala, ela necessite de mais atenção e isso faz com que ela se relacione com as outras pessoas muito bem.

3-    Já conhecias alguém gago antes de a conhecer?
Não.

4-    Qual foi a primeira reacção ao perceberes que a Inês era gaga? Porquê?
Reagi normalmente e perguntei se era gaga, e a sua resposta surpreendeu-me, ela disse que sim e começámos a rir, foi tudo natural. Porque não é o facto de ter um problema a nível da fala que tem de ser tratada de outra forma, é uma pessoa igual a qualquer ser humano.

5-    O que sabes sobre a gaguez?
Dificuldade de fala.

6-    Sabes porque existe gaguez? Quais pensas serem as causas para a gaguez?
Não. Não sei!

7-    Quando falas com alguém gago como te sentes? Sentes necessidade de o ajudar? Porquê?
Sinto-me bem, pois dou a atenção que necessitam para se expressarem e terminarem calmamente. Se for a Inês ajudo em algumas palavras, pois à certas palavras não consegue dizer, ajudo porque sei que de alguma forma a estou a ajudar.

8-    Em relação à comunicação, utilizas algum tipo de estratégias para a facilitar?
Não, ouço calmamente até ao fim.


9-    Quando achas que a gaguez se torna mais evidente? Em que tipo de situações achas que ela gagueja mais?
Tem dias que ela gagueja mais que outros. Sinto que ela gagueja mais quando está mais nervosa, ou quando quer contar alguma coisa, noto mais quando ela quer falar mais rápido.

 10- Achas que ela utiliza estratégias para contornar a gaguez? Se sim, quais?
Acho que algumas sim. Praia, ela diz – “peraia”. Arranja outras palavras para dizer o que pretende.

Entrevista à mãe da Inês


Nome: H.M.             
Idade: 47

1-    Quando se apercebeu da gaguez da sua filha?
Apercebemos-nos da gaguez da nossa filha com cerca de 3 anos.

2-    Qual acha ser a(s) causa(s) para a gaguez?
Não sei. Contudo tenho várias pessoas da minha família, do lado da minha mãe e do meu pai que têm o mesmo problema. Aliás o meu pai também gaguejava.

3-    Qual foi a sua reacção? Procurou soluções? Quais?
A minha filha andou na Terapeuta da Fala, clínica particular, mas não resultou.

4-    Como pai/mãe qual acha ter sido a fase mais difícil para a sua filha?
As fases mais difíceis foi o ensino básico e o 2º e 3º ciclos.

5-    Quais as principais dificuldades que sentiu na comunicação com a sua filha? Utilizou algum tipo de estratégias? Sim, quais?
Não senti qualquer tipo de dificuldade. Esta reacção é extensa á família alargada.

6-    Acha que a gaguez pode de alguma forma influenciar o futuro da sua filha? De que forma?
Penso que não, porque ela consegue obter os objectivos que os outros também atingem.

7-    Acha que a sociedade está devidamente informada acerca da gaguez? Porquê?
     Sim, aliás, agora os centros de saúde já têm técnicos especializados na área e são logo intervencionados precocemente através da família/infantário/escola.

Na altura em que tal situação foi detectada na nossa filha não existia as terapeutas da fala junto dos centros de saúde.

8-    O que diria às pessoas sobre como lidar com a gaguez?
Para mim a gaguez é uma situação normal e a nossa intervenção é igual para os nossos filhos. Certo é que quando está mais ansiosa/nervosa nota-se mais a gaguez.

Obrigada!

Entrevista à Inês - com gaguez

Entrevista à JA - esposa de MB



Nome: J.A.
Sexo: F                                                
Idade: 31


1-    Quando conheceu o seu marido apercebeu-se logo da gaguez? Se não, quando se apercebeu? Se sim, como reagiu?
Sim, não tive qualquer tipo de reacção.

2-    Sentiu algum tipo de dificuldade em comunicar com ele? No presente sente? Utiliza algum tipo de estratégias?
Não, nem no passado nem no presente.

3-    Qual era a sua opinião sobre a gaguez antes de o conhecer? E agora?
Era que era um problema a nível psicológico/nervoso que impossibilita a pessoa de comunicar verbalmente da forma mais adequada possível. Agora continuo a ter a mesma opinião.

4-    Acha que a gaguez pode influenciar o seu dia a dia? E o dele?
Não, não considero que a gaguez iniba o meu dia nem o dele.

5-    Em relação à informação disponível acerca da gaguez, acha que é suficiente?
Não acho que haja muita informação acerca da gaguez, considero que ainda é um assunto “tabu”, que não é bem reconhecido em sociedade.

6-    Acha que em relação às pessoas gagas existe algum tipo de preconceito? Ou acha que de uma forma geral são bem aceites?
Acho. Acho que por vezes não são “ouvidas” até ao fim, acabam-lhes as frases muitas vezes tentando “adivinhar” o que elas vão dizer. Mas acho que regra geral são bem aceites.

7-    O que diria às pessoas sobre como lidar com a gaguez?
Lidar com a gaguez? Pois bem, não é uma doença, o que poderei dizer é que deixando a pessoa à vontade e calma é um primeiro passo para facilitar a comunicação, isto aplica-se a uma pessoa com gaguez ou sem gaguez.



Obrigada!

Entrevista ao MB - com gaguez

Nome: M.B.

Sexo: M                                                 
Idade: 40  


1-    Quando notou pela primeira vez que era gago? Alguém alertou?
Notei por volta dos 8 anos. Senti por mim próprio que às vezes repetia a mesma palavra.

2-    Qual acha ser a causa(s) para a gaguez?
Algum problema  no sistema nervoso central e a ansiedade (estado nervoso).

3-    Tem conhecimento de outro caso de gaguez na família?
Tenho. O meu pai.

4-    Que ideia tinha na altura sobre a gaguez? E hoje?
Antes não tinha nenhuma opinião formada e agora também não, a gaguez nunca me incomodou.

5-    Ao longo da vida qual a fase mais difícil? Porquê?
Na minha adolescência, porque foi a fase mais “eufórica” da minha vida, e não me conseguia expressar bem.

6-    Que implicações tem a gaguez no seu quotidiano?
Há situações em que estou mais nervoso e não me consigo expressar da mesma maneira que se não gaguejasse.

7-    Para controlar a gaguez, utiliza algum tipo de truques ou estratégias? Quais?
Não.

8-    Já frequentou alguma vez Terapia da Fala? Se sim, durante quanto tempo? Notou melhorias? Ou a outro tipo de apoio?
Já. Quando era criança frequentei um psicólogo, mas durante três, quatro meses e não notei qualquer tipo de melhoria.

9-    Em relação ao resto da população, acha que está bem informada acerca da gaguez? Se não, porquê?
Não estou muito informado porque não é um assunto muito explorado.

10- Sente que há algum tipo de preconceito por parte dos outros por ser gago (a)? Se sim, Porquê?
Não, não considero que acho que haja um tipo de preconceito.


Obrigada!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Entrevista à Terapeuta da Fala Mónica Rocha




1.     Qual a(s) diferença(s) na intervenção em Terapia da Fala com as diferentes faixas etárias?
Em qualquer área de intervenção existem sempre diferenças na atuação perante as diferentes faixas etárias e perante cada pessoa em particular. Provavelmente aqui a maior diferença, relaciona-se com a intervenção terapêutica nas crianças, uma vez que a intervenção indireta (usualmente com os pais e professor) é essencial para o sucesso terapêutico.

2.     Qual acha ser a faixa etária que mais dificuldades tem em lidar com a gaguez? Porquê?
Talvez seja com os adolescentes, por ser um grupo etário muito especial onde a formação da identidade está muito exacerbada e tudo é vivido com grande intensidade, seja positivo ou negativo. Por um lado ainda não têm maturidade suficiente para compreender determinadas questões e por outro, as ferramentas muitas vezes usadas para explicar determinados assuntos às crianças são demasiado infantis para esta faixa etária.

3.     Quais os motivos (queixas) principais que levam os gagos a procurar ajuda em Terapia da Fala?
Se estivermos a pensar em crianças, na maioria das vezes são os pais que tomam essa decisão. Os adultos muitas vezes procuram-nos quando alguma mudança vai acontecer ou aconteceu nas suas vidas (ex: entrevista de emprego, apresentação de tese….) Estas mudanças muitas vezes influenciam a perceção da pessoa sobre si própria e a sua autoconfiança fica abalada, assim precisam de uma ajuda externa para atingir o objetivo ou viver essa mudança de forma mais eficaz.

4.     Qual acha ser a maior dificuldade dos gagos? Porquê?
Mais uma vez, estamos a falar de algo que acaba por ser muito relativo. Tudo isso vai depender de muitos fatores externos, internos (da própria personalidade) e da própria gaguez. É diferente estarmos a falar de um homem ou de uma mulher, de uma criança de cinco anos e de um adulto de 30, de um jornalista que precisa de usar a voz constantemente para o seu trabalho e de um mecânico. Cada pessoa aparece-nos com vivências muito próprias, com sentimentos e pensamentos distintos e é essa variabilidade que torna tudo muito mais interessante. Somos humanos e somos todos diferentes. Não é a toa que empregamos o termo biopsicossocial e não é a toa que enfatizamos um tratamento holístico.


5.     Que tipo de estratégias utilizadas em intervenção acha que têm melhores resultados?
A estratégia com que aquela pessoa que gagueja se sente melhor. Muitas vezes, determinada estratégia até pode aumentar/melhorar diretamente a fluência, mas é importante perceber se a pessoa se sente confortável com a sua utilização. O importante não é a sua utilização em contexto terapêutico, mas sim a utilização em todos os contextos do seu dia-a-dia.

6.     Em relação à informação disponível acerca da gaguez, acha que é suficiente? Se não, que informação faz falta?
Atualmente e felizmente a gaguez já começa a ser mais falada, no entanto ainda é uma problemática envolvida em mitos e representações distorcidas. Existe uma lacuna de informação fidedigna essencialmente nas escolas e classe médica, oque não permite um encaminhamento precoce para o terapeuta da fala. As crianças que chegam até nós já apresentam uma gaguez instalada, crónica e portanto o sucesso terapêutico está obviamente condicionado. Por outro lado, a população em geral necessita de ser informada acerca desta problemática, para que exista uma maior dessensibilização e respeito perante as pessoas que gaguejam.

7.     Como Terapeuta da Fala o que diria às pessoas sobre como lidar com a gaguez?
Os nossos objetivos e sonhos não devem/podem ser esquecidos ou destruídos em detrimento da gaguez. A gaguez não pode ser uma desculpa para não ir atrás do sonho. O desafio é maior, sem dúvida, mas a vitória quando alcançada também terá um sabor diferente e o orgulho sentido terá um peso maior.  

Obrigada!