1. Qual a(s) diferença(s) na intervenção em Terapia da Fala com as diferentes faixas etárias?
Em qualquer área de intervenção existem sempre diferenças na atuação perante as diferentes faixas etárias e perante cada pessoa em particular. Provavelmente aqui a maior diferença, relaciona-se com a intervenção terapêutica nas crianças, uma vez que a intervenção indireta (usualmente com os pais e professor) é essencial para o sucesso terapêutico.
Talvez seja com os adolescentes, por ser um grupo etário muito especial onde a formação da identidade está muito exacerbada e tudo é vivido com grande intensidade, seja positivo ou negativo. Por um lado ainda não têm maturidade suficiente para compreender determinadas questões e por outro, as ferramentas muitas vezes usadas para explicar determinados assuntos às crianças são demasiado infantis para esta faixa etária.
Se estivermos a pensar em crianças, na maioria das vezes são os pais que tomam essa decisão. Os adultos muitas vezes procuram-nos quando alguma mudança vai acontecer ou aconteceu nas suas vidas (ex: entrevista de emprego, apresentação de tese….) Estas mudanças muitas vezes influenciam a perceção da pessoa sobre si própria e a sua autoconfiança fica abalada, assim precisam de uma ajuda externa para atingir o objetivo ou viver essa mudança de forma mais eficaz.
Mais uma vez, estamos a falar de algo que acaba por ser muito relativo. Tudo isso vai depender de muitos fatores externos, internos (da própria personalidade) e da própria gaguez. É diferente estarmos a falar de um homem ou de uma mulher, de uma criança de cinco anos e de um adulto de 30, de um jornalista que precisa de usar a voz constantemente para o seu trabalho e de um mecânico. Cada pessoa aparece-nos com vivências muito próprias, com sentimentos e pensamentos distintos e é essa variabilidade que torna tudo muito mais interessante. Somos humanos e somos todos diferentes. Não é a toa que empregamos o termo biopsicossocial e não é a toa que enfatizamos um tratamento holístico.
A estratégia com que aquela pessoa que gagueja se sente melhor. Muitas vezes, determinada estratégia até pode aumentar/melhorar diretamente a fluência, mas é importante perceber se a pessoa se sente confortável com a sua utilização. O importante não é a sua utilização em contexto terapêutico, mas sim a utilização em todos os contextos do seu dia-a-dia.
Atualmente e felizmente a gaguez já começa a ser mais falada, no entanto ainda é uma problemática envolvida em mitos e representações distorcidas. Existe uma lacuna de informação fidedigna essencialmente nas escolas e classe médica, oque não permite um encaminhamento precoce para o terapeuta da fala. As crianças que chegam até nós já apresentam uma gaguez instalada, crónica e portanto o sucesso terapêutico está obviamente condicionado. Por outro lado, a população em geral necessita de ser informada acerca desta problemática, para que exista uma maior dessensibilização e respeito perante as pessoas que gaguejam.
Os nossos objetivos e sonhos não devem/podem ser esquecidos ou destruídos em detrimento da gaguez. A gaguez não pode ser uma desculpa para não ir atrás do sonho. O desafio é maior, sem dúvida, mas a vitória quando alcançada também terá um sabor diferente e o orgulho sentido terá um peso maior.
Obrigada!
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